Dias chuvosos sempre
acabaram comigo, comigo e com meu dia. Eu gostava mesmo era de acordar com um
sol bem quente batendo na minha cara e me lembrando como era bom estar viva,
que eu tinha um dia cheio pela frente. Mas nesse maldito dia a chuva caiu forte,
e não parecia dar trégua nunca. Hoje foi diferente, entende? Hoje foi o único
dia em que eu não senti ódio da chuva, na verdade era exatamente o que eu
precisava, já que ela parecia transparecer todas as coisas que se passavam na
minha cabeça há dias. Acendi um cigarro assim, no meio da garota que por mais
grossa que parecesse, misturava-se as lágrimas que escorriam pelo meu rosto,
aparentemente sem motivo algum. Deixei que ela lavasse tudo de ruim que senti.
Deixei que ela, só por um momento, fizesse parte de mim e eu dela. Naquele
momento nenhum raio de sol cairia tão bem, nada além daquela chuva poderia ser
tão certeiro. Eu deixei que fosse, deixei que levasse minha angústia de todas
as manhãs. A chuva me fez pensar porque a melancolia é tão ambígua, como pode
ser tão prazerosa e tão dolorosa, como pode ser tão suave e tão marcante. Mas,
quando finalmente consegui deixar tudo escorrer pelo bueiro da calçada e
entrar, percebi que nada havia mudado.
Ah, chuva, queria que você
realmente pudesse levar tudo aquilo que me prometeu naquele momento em que eu
te pedi pra nunca parar de cair, mas ninguém pode, nem você, nem eu e nem
qualquer pessoa nesse mísero planeta. Ninguém pode transpor das barreiras que
eu criei dentro de mim, ninguém pode me salvar dessa morte terrível que eu
mesma comecei. E olha, chuva, que eu já tentei de todos os jeitos, mas tudo já
está tão esgotado quanto tudo aquilo que você veio pra encher.


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