6.6.17

Ah, chuva.

Dias chuvosos sempre acabaram comigo, comigo e com meu dia. Eu gostava mesmo era de acordar com um sol bem quente batendo na minha cara e me lembrando como era bom estar viva, que eu tinha um dia cheio pela frente. Mas nesse maldito dia a chuva caiu forte, e não parecia dar trégua nunca. Hoje foi diferente, entende? Hoje foi o único dia em que eu não senti ódio da chuva, na verdade era exatamente o que eu precisava, já que ela parecia transparecer todas as coisas que se passavam na minha cabeça há dias. Acendi um cigarro assim, no meio da garota que por mais grossa que parecesse, misturava-se as lágrimas que escorriam pelo meu rosto, aparentemente sem motivo algum. Deixei que ela lavasse tudo de ruim que senti. Deixei que ela, só por um momento, fizesse parte de mim e eu dela. Naquele momento nenhum raio de sol cairia tão bem, nada além daquela chuva poderia ser tão certeiro. Eu deixei que fosse, deixei que levasse minha angústia de todas as manhãs. A chuva me fez pensar porque a melancolia é tão ambígua, como pode ser tão prazerosa e tão dolorosa, como pode ser tão suave e tão marcante. Mas, quando finalmente consegui deixar tudo escorrer pelo bueiro da calçada e entrar, percebi que nada havia mudado.

Ah, chuva, queria que você realmente pudesse levar tudo aquilo que me prometeu naquele momento em que eu te pedi pra nunca parar de cair, mas ninguém pode, nem você, nem eu e nem qualquer pessoa nesse mísero planeta. Ninguém pode transpor das barreiras que eu criei dentro de mim, ninguém pode me salvar dessa morte terrível que eu mesma comecei. E olha, chuva, que eu já tentei de todos os jeitos, mas tudo já está tão esgotado quanto tudo aquilo que você veio pra encher.

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