Olhamos pro nosso dia a dia sempre tão rotineiro, sempre tão igual. Passamos pelas mesmas ruas, acordamos nos mesmos horários, pegamos o mesmo ônibus, passamos pelas mesmas casas, lojas, pessoas. Meu melhor amigo sempre costumava dizer que a rotina pode ser maravilhosa, e eu sempre duvidei disso (ainda duvido algumas vezes). Pergunto-me como a vida pode ser tão limitada, e não sei se ela se tornou isso por mérito próprio ou se eu passei a olhá-la com maus olhos. A vida é quase como navegar em um barco e nunca chegar a lugar nenhum, é atravessar um rio a nado e perceber que o outro lado não tem nada diferente, é se frustrar todos os dias e aceitar que você não pode fazer nada em relação a isso. Por mais incrível que pareça, dias iguais nos trazem emoções diferentes. Muitas vezes uma coisa muda tudo: o motorista do ônibus parece mais simpático, você percebe detalhes na fachada daquela casa que nem tinha tanta graça. Você que navegava perdido, acaba descobrindo que por tantas vezes você achou o cais, mas nunca quis desembarcar porque simplesmente ninguém te esperava lá. Mas dessa vez é diferente, porque agora tem alguém te esperando do outro lado do rio. Agora você sabe que, talvez a vida nunca seja nos filmes, que você talvez você não vá pra Nárnia, ou não vá ser picado por uma aranha e ganhar super poderes, mas você sabe que dentro do seu limite, a rotina pode ser incrível, simplesmente por ser sua. Não estou dizendo que a gente deve parar de sonhar e aceitar nosso destino chato e sombrio, claro que não, mas eu aprendi a olhar a rotina de outra maneira. Agora sou eu no cais admirando a beleza que se repete, mas a cada dia me traz uma sensação nova. Agora sou eu no cais esperando algum barco perdido, que só precisa saber que tem alguém esperando pra não desembarcar sozinho.

