27.7.22

Águas profundas


(Nota: Escrevi esse texto em 2017)

Nossa história é de longe a mais fácil de se entender. Não foi como esses casais que se esbarram na rua e se apaixonam a primeira vista, ou coisa do tipo. Foi quase como um prédio abandonado que foi reconstruído. Você trouxe os tijolos e eu fiz a maior parte do esforço.

Creio que você não consiga entender meus motivos. Você estava sempre tão pronto a brincar comigo que nem se deu o trabalho de olhar mais fundo. Sua verdadeira preocupação era olhar ali na borda. 

Você parecia aquelas pessoas que vão à praia no inverno: chegam, molham os pés na água, e quando vêem que ela está gelada, correm para a areia. Eu entendo que seja muito cômodo, mas as vezes perdemos a chance de ver a imensidão do oceano por medo do frio. Você perdeu a chance de ter a eternidade do mar em suas mãos, pela solidez dos pés no chão.

Eu não te culpo, quem não tem medo de se afogar? Eu mesmo tenho muito, mas tenho minhas prioridades, e você foi uma delas. Eu deixei o conforto do meu lar para nadar nas suas águas, e vamos combinar, não foi fácil. Você foi aquele mar bravo, e mesmo quando as ondas vinham e me cobriam, eu encontrava forças em algum lugar dentro de mim para nadar até a superfície e esperar a próxima. Fiz isso tantas vezes que perdi a conta. Mas a verdade é que uma hora a gente cansa de nadar sem nunca chegar a praia.

Admito que eu também não sou lá o Mar Morto, e sou tão conturbado quando o seu Oceano Pacífico. Eu esperava que você viesse. Se não nadando, de barco, de lancha, de bote... Mas você não veio. Na verdade, quando a água começou a bater no seu umbigo, você já entrou em desespero e voltou. Mas saiba que eu te salvaria em qualquer lugar que fosse. Eu deixaria novamente o meu medo de lado e nadaria até o fim do mundo pra te salvar.

 
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